Como Lampião da Esquina desafiou a repressão em plena ditadura militar
Entre 1978 e 1981, um jornal independente, impresso no Rio de Janeiro, trazia a pauta LGBTQIA+ de uma forma diferente. Além de abordar temas relativos à sexualidade, o impresso falava sobre identidade e questões sociais, fazendo contraponto à cobertura da imprensa tradicional, que resumia a comunidade ao noticiário policial.
O “Lampião da Esquina”, uma mídia com mais de 25.000 tiragens mensais, chegou a fazer uma seção chamada “conheça o seu ativismo”, na qual conectava seus leitores a grupos locais de militância. Seu conselho editorial era formado por onze jornalistas, entre eles Aguinaldo Silva e Caio Fernando Abreu.
O impresso explorava o humor, entrevistava personalidades como Leci Brandão, Ney Matogrosso e Laerte e também denunciava rondas policiais e a situação das prisões brasileiras em extensas reportagens.
Em editorial que marca a primeira edição do jornal, destacam:
“É preciso dizer não ao gueto e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual corno uma espécie de maldição. (…) o que nós queremos é resgatar essa condição que todas as sociedades construídas em bases machistas lhes negou: o fato de que os homossexuais são seres humanos e que, portanto, têm todo o direito de lutar por sua plena realização.”
Em 2016, a diretora Lívia Peres lançou um documentário de mesmo nome “Lampião da Esquina”, no qual entrevista boa parte de seus onze realizadores e outros nomes importantes da cena LGBTQIA+ do país, mostrando a importância do movimento.
No Dia do Orgulho, resgatamos a memória do Lampião da Esquina, importante mídia de luta e sociabilização LGBTQIA+. O jornal teve mais de 150 edições publicadas. Algumas delas podem ser conferidas na íntegra no site do Grupo Dignidade.
